Sotaque

Ricardo LaudaresPrática Musical

Sotaque é algo que se aprende mas não se ensina. É muitas vezes um aprendizado que acontece involuntariamente, através do contato contínuo com outras pessoas.

Por exemplo, alguém que cresceu em uma cidade e mudou para outra com sotaque muito diferente costuma pegar um pouco do novo sotaque da região. Coitado, agora ele não consegue agradar ninguém. Os seus novos vizinhos gozam do seu sotaque estrangeiro, e seus antigos conterrâneos gozam que ele mudou o jeito de falar.

Na música, muitas coisas se aprendem como um sotaque. Sem querer, por imitação involuntária. Certas nuances rítmicas, certas acentuações… Coisas que seriam impossíveis de ensinar concretamente. Por exemplo, não tem como explicar assim: “toque essa batida para baixo 3 milissegundos atrasado…” Ou, “acentue essa nota 0,2 Db mais forte”. Não temos como calcular e executar isso.

O que nos resta é imitar. E a imitação tem um lado consciente e outro inconsciente. Podemos tentar tocar atrasado ou adiantado, mais forte ou mais fraco. Mas uma parte desse processo acontece como se fosse por osmose, apenas tocando junto e tentando sincronizar com outro(s) músico(s).

Para fechar com a metáfora do sotaque, imagine-se aprendendo um novo idioma. Para falar bem é importante ter contato com nativos falantes da língua. Naturalmente vamos pegar alguns trejeitos. Mas é claro, se prestarmos atenção nos detalhes e tentarmos imitá-los esse processo acontece mais rapidamente e o resultado é melhor.