Quando eu falo que pra tocar um instrumento musical não é necessário ter talento – ou melhor – não é necessário ter facilidade pra aprender (leia o texto de ontem), eu não estou falando baseado na minha própria experiência. Não sei se foi porque eu tinha talento, ou dedicação, ou motivação, ou qualquer outra coisa; mas eu diria que alguma facilidade eu tive quando comecei a tocar violão e em seguida guitarra…
Portanto, pode parecer meio hipócrita falar que não é necessário ter um determinado privilégio quando você usou deste para alcançar um objetivo. Por isso, hoje vou falar de como foi pra mim aprender forró.
Primeiro, preciso deixar claro que eu não sou um exímio dançarino. Eu sei o básico do básico e olhe lá. Mas pra mim, isso foi uma grande conquista.
Desde meus 15 anos até meus 20 anos eu tentava aprender. Pedi pros meus amigos mais velhos me ensinarem, minhas amigas que sabiam dançar, e nada dava certo. Eu não conseguia fazer o passo básico, não conseguia fazer nem fazer o 1,2,3…
Mais próximo dos 20 anos, algum mínimo progresso aconteceu. Esse passo básico começava a se encaixar. Mas ainda assim, muito ruim. Pra mim era claro: Eu sou o tipo de pessoa que não leva jeito pra dançar.
Tudo mudou quando eu fiz um curso de Educação Musical baseado no método Dalcroze, que explora o corpo e a dança para ensinar Música. No curso eu pude perceber quão travado eu era pra me expressar corporalmente, e também percebi que com alguma prática eu poderia me soltar. No final do curso eu cheguei na conclusão que dançar poderia me ajudar musicalmente. Na semana seguinte me matriculei na aula de Forró.
Alguns meses de aulas em grupo, somadas a mais cerca de um ano de aula particular, eu mudei minha identidade. Eu passei de alguém que se via incapaz de aprender a dançar a alguém que aprendeu o básico, mesmo sem nenhuma facilidade para aprender.
Eu tiro duas lições dessa minha história. A primeira é que inicialmente eu fiz tudo errado. Eu queria muito aprender a dançar, eu percebi que era difícil pra mim, e mesmo assim eu não busquei uma ajuda profissional. Eu pedia para amigos, para pessoas que não tinham capacidade de me ensinar.
Na Música eu vejo que acontece a mesma coisa: Eu conheço muitas pessoas que aprenderam de forma auto-ditada, mas definitivamente não é pra todo mundo. E aqueles que se veem com dificuldades, fazem muito bem em procurar um professor, se possível, um especializado em iniciantes.
E a última é sobre aprender algo que não se tem facilidade. Como eu disse, não sou um grande dançarino. Mas a minha satisfação com o nível que eu já cheguei é enorme, talvez maior do que de muitos dançarinos avançados. E isso se deve ao fato de que algo que parecia impossível, depois de muita persistência tornou-se possível. Quando se aprende algo que percebemos não ter facilidade o sentimento de mérito é muito maior. E esse benefício vai além da satisfação. Ganhamos auto-confiança, no sentido de acreditar que podemos aprender qualquer coisa. Isso é muito valioso, porque essa mentalidade nos permite acreditar, por exemplo, que nossos defeitos não são permanentes, que eles podem melhorar a partir do nosso empenho.