No texto de ontem<\/a> eu falei sobre passar do ponto. Passar do ponto lembra de cozinha: a carne passou do ponto. Ou: o tempero passou do ponto, precisava de mais sal. Ou talvez de menos… E essa \u00e9 exatamente a met\u00e1fora para explicar “o ponto” de uma interpreta\u00e7\u00e3o musical.\u00a0

N\u00e3o existe algo concreto para definir qual \u00e9 o ponto certo. Vai do bom gosto do cozinheiro, e esse vem da sua experi\u00eancia. Al\u00e9m disso, a avalia\u00e7\u00e3o do que \u00e9 bom varia de cozinheiro pra cozinheiro, e tamb\u00e9m de quem vai comer.\u00a0

No texto de ontem eu achei a performance vocal de Beyonc\u00e9 na m\u00fasica do Rei Le\u00e3o exagerada. Tenho certeza que outras pessoas n\u00e3o acharam.\u00a0

Hoje vou compartilhar outro exemplo de interpreta\u00e7\u00e3o que passou do ponto na minha opini\u00e3o.

Essa vers\u00e3o ao vivo da m\u00fasica Mr Jones – Couting Crows<\/a>.

S\u00f3 que diferente do texto de ontem, o que me incomodou n\u00e3o foi o virtuosismo t\u00e9cnico do cantor, mas sim a quantidade de varia\u00e7\u00e3o que ele fez da melodia original*.\u00a0

No come\u00e7o da m\u00fasica eu achei at\u00e9 legal… Pensei: “nossa, que interessante o jeito que ele cantou essas primeiras frases”. Mas o problema \u00e9 que a m\u00fasica foi passando e ele quase n\u00e3o cantou nada como na original, me fazendo sentir como se a can\u00e7\u00e3o estivesse desfigurada, como se fosse uma caricatura da m\u00fasica… e a\u00ed eu parei de achar legal.

Pra continuar na met\u00e1fora da cozinha, era como se o tempero tivesse me surpreendido positivamente na primeira mordida, mas depois eu achasse que estava salgado demais, e deixou de ser prazeroso. Passou do ponto. Enjoou.\u00a0

A moral da hist\u00f3ria \u00e9 que \u00e9 preciso experimentar, testar e buscar o ponto certo de como vamos interpretar uma m\u00fasica. Provavelmente vai demorar pra chegar no ponto que consideramos o resultado equilibrado e maduro. E o mais importante, por melhor que esteja, n\u00e3o vamos agradar a todos.\u00a0

Ps: como essa \u00e9 a m\u00fasica mais famosa do cantor \u00e9 prov\u00e1vel que ele cante ela toda diferente porque est\u00e1 enjoado da vers\u00e3o original, ou at\u00e9 pra irritar aqueles “f\u00e3s de uma m\u00fasica”\u00a0 que compareceram ao show (dizem que os Los Hermanos n\u00e3o tocavam Anna J\u00falia nos shows pelo mesmo motivo).\u00a0<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

No texto de ontem eu falei sobre passar do ponto. Passar do ponto lembra de cozinha: a carne passou do ponto. Ou: o tempero passou do ponto, precisava de mais sal. Ou talvez de menos… E essa \u00e9 exatamente a met\u00e1fora para explicar “o ponto” de uma interpreta\u00e7\u00e3o musical.\u00a0 N\u00e3o existe algo concreto para definir qual \u00e9 o ponto certo. … <\/p>\n